Provavelmente, o nome “The Good Wife” causará estranheza ao ver como recomendação de série jurídica. Mas, como já alertava a publicidade da própria série, “Don’t let the name fool you”.

A série surgiu no ano de 2009, mesmo período em que deflagraram diversos escândalos sexuais envolvendo políticos, sendo dessa forma que a série inicia: o escândalo envolvendo Peter Florrick, ex-advogado do estado de Condado de Cook, Illinois, e marido de Alicia Florrick.

A trama segue com seus 3 principais pilares: jurídico, político e pessoal, tendo Alicia Florrick como personagem principal, sendo a “boa esposa”.

Mas lembrem-se, apesar de mostrar apoio ao marido corrupto, Alicia não é tão santa nem tão submissa quanto parece.

A série mostra que nada é tão preto no branco e como ninguém é tão certo ou errado, especialmente quando se trata de uma mulher retomando ao mercado de trabalho como advogada, depois de mais de uma década longe dos tribunais.

A situação vivenciada por Alicia Florrick reflete bem a realidade de várias mulheres que abandonaram a carreira para cuidar dos filhos e que, ao retornarem ao mercado de trabalho, enfrentam diversas dificuldades para encontrar um emprego, serem respeitadas profissionalmente e atingirem o sucesso almejado.

Ao retornar para seu antigo trabalho como advogada, no escritório Stern, Lockhart & Gardner – sendo um dos sócios seu amigo e antiga paixão de faculdade, Will Gardner — após 13 anos como mãe atenciosa e dona-de-casa, ela se mostra forte e determinada a retomar o controle de sua vida, mostrando sua habilidade em se reinventar e mais que isso, sua habilidade como advogada e articuladora de seus contatos pessoais (inclusive de seu marido Peter Florrick) para obter êxito no escritório.

Alicia aprende que precisa jogar – ainda que isso envolva seu affair Will Gardner, seu marido Peter Florrick e o chefe de campanha de seu marido, Eli Gold — e que depende de networking e de clientes influentes para alcançar seus objetivos.

E, principalmente, em razão de sua atuação no tribunal, a personagem Alicia chama atenção dos demais sócios do escritório.

Um pouco diferente do que acontece em Suits, por exemplo, a atuação da advogada acontece em meio a júris, no qual ganha destaque pela articulação dos fatos, pela forma provocativa e assertiva nas oitivas de testemunhas e pela preciosa atenção dada aos detalhes de cada caso que representa, com a qual conta com a ajuda – nada ortodoxa, diga-se de passagem – de Kalinda Sharma, a investigadora particular da firma.

Apesar das várias facetas da série, vale a pena a reflexão sobre o empoderamento feminino na carreira jurídica, tema esse que é abordado com bastante ênfase na série, mas de uma forma absolutamente natural.

Letícia Micheletti Demundo Pesani é advogada com atuação em contencioso cível judicial e extrajudicial do escritório ZMB Advogados.